segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A importância da intervenção multiprofissional com mulheres na fase do climatério


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As pacientes que fazem tratamento com reposição hormonal e apresentam queixas e sintomas da menopausa são encaminhadas para o grupo de Terapia Ocupacional
Notícia publicada na edição de 09/10/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.
* Raquel Hatsuko Teruya
** Soraya Diniz Rosa

Este artigo objetiva discutir a importância do terapeuta ocupacional na equipe multiprofissional de saúde, especificamente no trabalho com um grupo de mulheres que se encontram na fase do climatério.

O debate apresentado faz parte do resultado de uma experiência realizada entre a Universidade de Sorocaba (Uniso) e a Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC/Sorocaba), nas áreas de terapia ocupacional e medicina. As participantes do grupo são mulheres, com mais de 40 anos de idade, que realizam tratamento num serviço público de nível ambulatorial e são assistidas pela equipe de medicina, na especialidade de ginecologia. As pacientes que fazem tratamento com reposição hormonal e apresentam queixas e sintomas da menopausa são encaminhadas para o grupo de Terapia Ocupacional.

Ao estudarmos as fases do desenvolvimento adulto verificamos que a maior parte dos adultos acredita que na meia-idade tem-se o início de várias perdas e habilidades, ainda que, na realidade, as mudanças sejam bastante pequenas e gradativas. Dentre elas, aponta-se a perda da capacidade de reprodução, que ocorre lentamente nos homens, caracterizando a fase de menor produção de esperma viável e de quantidade de fluído seminal. Já, nas mulheres, essa fase denominada de menopausa, costuma ocorrer entre 45 e 55 anos e a intensidade de sintomas associada à crença da necessidade de orientação médica, remete a mulher à procura de tratamento (BEE, 1997; Papaléo, 1997, Pereira, 2009). 

É importante perceber que o período do climatério é vivido de maneira diferente por mulheres diferentes, pois se trata de um fenômeno biológico e sociocultural. Assim, as mulheres da casta Rajput, na Índia, não apresentam sintomas que as ocidentais associam ao climatério, pelo contrário, essa fase significa a elevação de seu status social, pois ficam livres da segregação (antes da menopausa são obrigadas a viver em reclusão, exceto com seus parceiros, pois não é permitido a convivência com a figura masculina), podem falar em público e em algumas localidades, até participam de reuniões junto aos homens (Van Keep, 1984).

Na cultura ocidental, a cultura médica reflete o "mal estar" que cerca esse período e enfatiza o estereótipo da mulher menopausal, definindo os sintomas biológicos e psicológicos dessa "doença". Essa postura reflete o preconceito da sociedade frente a essas mulheres, que é reforçado pelo marketing dos fabricantes de medicamentos e pelos próprios médicos (Wilson,1965; Molinari, Moreira, Conterno, 2005; Zahar, 2005). 
Partindo da necessidade de revermos essa cultura, sugerimos um estudo sobre as diversas ações que podemos fazer com esse grupo de mulheres, pois verificamos que muitas vezes, as consultas periódicas com o ginecologista não são suficientes para tratar questões complexas, já que as queixas apresentadas são diversas e interferem diretamente no cotidiano dessas pessoas.

Assim, ao inserir no tratamento a área da Terapia Ocupacional, ampliamos a possibilidade de cuidado com esse grupo. O terapeuta ocupacional cuida das pessoas que por problemas de ordem física, psíquica ou social, estão incapacitadas de exercerem suas tarefas e funções ou mesmo de organizar a sua rotina diária com maior independência e autonomia. Compreendemos que "o estado de saúde e/ou doença do sujeito pode ser identificado pela possibilidade ou impossibilidade de desejar, planejar e executar seu(s) projeto(s) de vida no cotidiano e na interação social" (Scatena & Rosa, 2012).

Então, nesse grupo especificamente, partimos da concepção da potência do recurso grupal na intervenção da Terapia Ocupacional, bem como a importância do planejamento e da execução de atividades no contexto do atendimento, pois provocam a ampliação das possibilidades de encontro entre as pessoas, favorece a comunicação, a expressão das suas experiências difíceis e ao mesmo tempo a descoberta de novas habilidades e novos desejos. Dessa forma, a interação da Terapia Ocupacional com a medicina possibilitou nesse trabalho a construção de um projeto terapêutico único, valorizando as características de cada clínica. 

Como resultado, podemos apontar que ao tratarmos de um grupo de mulheres que estão vivenciando a fase do climatério, ajudamos possibilitar a cada uma delas, um espaço para a expressão dos seus conflitos, das suas angústias e das suas dificuldades frente a esse ciclo de vida, criando um ambiente de acolhimento e de compreensão desse sofrimento humano. Além de garantirmos a elas a possibilidade de experimentação dos papéis, assegurando-lhes o desejo de mudança e a ocupação do lugar de sujeito desejante, que se compreende como produtor e produto do seu próprio fazer no mundo. 

* Raquel Hatsuko Teruya, aluna do curso de Graduação em Terapia Ocupacional da Uniso (raquel_teruya@hotmail.com)
** Soraya Diniz Rosa, professora de Terapia Ocupacional da Uniso, doutora em Educação pela Ufscar, integrante do Grupo de Pesquisa Terapia Ocupacional e Educação no Campo Social (Ufscar-CNPq), do Núcleo Ufscar do Histedbr e Coordenadora do Grupo de Pesquisa Educação e Política de Formação em Saúde (Uniso).

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