segunda-feira, 23 de abril de 2012

22 de Abril "Descobrimento" do Brasil.


“A costa da perplexidade” da antropóloga Celene Fonseca, no 
qual o eurocentrismo das comemorações do “Brasil 500 anos” é discutido. Para ler 
pausadamente e refletir:  
A costa da Perplexidade 
Celene Fonseca
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“A ideia de descobrimento do Brasil é um conceito racista, pois nivela os 
índios a coisas – como o Monte Pascoal.” 
Naus à vista ou terra à vista? Quem primeiro viu uns aos outros, os portugueses 
ou os índios? Os dois momentos existiram e não foram certamente simultâneos. O 
certo é que os índios já estavam na praia quando os portugueses conseguiram 
divisá-la. Talvez já estivessem ali desde a véspera, a costa era bem povoada e 
vigiada. Porém, é secundário saber quem teve a primazia do golpe de vista sobre a 
nova realidade que se apresentava diante de seus olhos; neste caso, a diferença de 
minutos ou de algumas horas não muda a realidade. 
Fundamental é ver o acontecimento na sua forma mais completa, conhecer o outro 
lado da História. Tanto mais quando se está em presença de visões antagônicas, 
cristalizadas hoje na fratura sociorracial do país. Ou seja, quando se sabe que os 
“vencidos” de ontem são os excluídos de hoje e que essa maioria, minorizada, não 
tem direito a voz. 
A perplexidade permeia a história escrita do Brasil desde o início. Essa é a palavra 
que melhor resume a sensação experimentada pelos índios quando os portugueses 
aqui chegaram: aquela costa foi tomada pela perplexidade. Quem houvera visto 
antes homens tão diferentes? Tão peludos, tão narigudos, pálidos, tão cobertos de 
vestimentas, alguns com adereços, homens sem mulheres, falando uma língua 
ininteligível, pilotando “casas flutuantes”... Quem são eles? De onde vieram? 
Onde estão suas mulheres? Escondidas no ventre de suas enormes “canoas”?! 
                                                          
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Aldeneiva Celene de Almeida Fonseca é antropóloga radicada em Salvador. Altiplano.com.br

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